Preciso confessar que eu não queria ser sentimentalista a esse nível. Queria escrever sobre como superar essa decepção amorosa foi fácil, ensinar um passo a passo simples pra lidar com coração partido e dizer que não levei nem 3 dias pra esquecer o amor perdido.
Queria do fundo do meu coração, da minha alma e de sei lá o que mais posso apelar pra confirmar.
Mas não foi isso que aconteceu. Nem de longe. A verdade é que a vida não tem sido muito fácil por aqui depois que você foi embora, e tudo que eu posso fazer é um passo a passo clichê de como não lidar com um coração partido.
Sejamos sinceros, meu sentimentalismo me derruba a cada esquina.
Nessas últimas semanas tenho me pego pensando em tudo que deixamos de ser mais vezes do que gostaria. Sigo andando desatenta e tropeçando nos meus próprios pensamentos.
Ando por aí sentindo falta dos seus dedos entrelaçados nos meus, sentindo falta do seu tom de voz reclamando de ter te feito assistir o filme de romance mais clichê do mundo, mais uma vez.
Será que você também tropeça por aí imaginando por onde tenho andado?
Será que você também passa pelos casais felizes no ponto de ônibus e se pergunta, em pensamento, se não desistimos cedo demais?
Será que, assim como eu, você também ainda escolhe os filmes no cinema pensando se eu iria gostar?
Será que também perde horas no mercado toda a semana passando pelos corredores e cogitando levar aquele cereal que eu tanto gostava, só pra ter um gostinho de mim na sua vida novamente, pela manhã?
Esses dias deixei a porta aberta, como costumava fazer, esperando você voltar pra nós.
Não que eu acreditasse por algum segundo que isso aconteceria, que você realmente voltaria, é claro. Mas a sensação de fazer algo como costumava fazer antes, aqueceu meu coração a noite toda.
Ainda não troquei os livros de lugar – lembra que você tinha reorganizado todos eles, numa tentativa frustrada de fazer um degradê de cores? – Mas, semana passada,me desfiz aquele quadro brega de girassóis que você me deu dizendo que combinaria com a minha sala.
Os resquícios da colisão de nossos mundos ainda estão aqui, na minha casa, pelas ruas, na minha pele que ainda queima com a lembrança do seu toque, nos meus gostos e até mesmo na playlist do meu vizinho, que ainda toca toda noite a nossa música.
Mas cada dia tenho visto menos o seu sorriso em rostos desconhecidos no caminho pro trabalho.
Cada dia tenho pensado menos em pedir comida japonesa.
Cada dia venho ocupando um espaço maior na cama, desfazendo aquele lugar imaginário que eu ainda nomeava de seu.
Quem sabe, dia mais, dia menos, eu não esteja pronta pra dividir aquele espaço com um novo mundo. Talvez, não exista maneira certa de lidar com um coração partido, afinal.
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