Quando eu deixei de te amar

Quando eu deixei de te amar (mas não soube como contar).

Eu me lembro perfeitamente do momento. Você estava de costas para mim, na cozinha, terminando de secar a louça da janta, enquanto eu observava uma pintinha perdida em seus ombros largos.

Sempre gostei de ficar te admirando enquanto você estava distraído, descobrindo detalhes e manias suas que eu gostava de acreditar que ninguém mais conhecia.

Você colocou o pano da louça no lugar, virou e me olhou rápido, antes de ter sua atenção roubada pela taça que ficou esquecida em cima da mesa.

Este poderia ser um texto sobre como foi nesse momento tão simplório da rotina que eu percebi o quanto eu era perdidamente apaixonada pelos seus olhos escuros, suas camisetas com estampas engraçadas e pela falha no lado direito da sua barba.

Mas não foi. Na verdade, foi nesse momento que eu percebi que eu já não te amava mais.

Abri um sorriso, enquanto ainda te olhava, assimilando esse novo sentimento que se fez presente.

Você percebeu que eu te fitava e voltou sua atenção para mim novamente, me perguntando “o que foi?” meio sem graça e abrindo um sorriso também.

Respondi que não era nada, que só estava feliz, porque eu realmente estava.

Você se aproximou, me deu um beijo na testa, dizendo que também se sentia feliz e se aconchegou ao meu lado no sofá, apoiando sua cabeça em meus ombros.

Me senti um pouco culpada, mas como eu explicaria, sem te machucar, que perceber que eu já não te amava mais me fazia feliz? Como é que se explica uma coisa assim?

Quer dizer, é claro que eu te amava.

Amava a pessoa que vi você se tornar nos últimos meses. Amava a sua forma de se portar no mundo, seu jeito gentil de falar. Amava todas as pequenas coisas sobre você que você só compartilhava comigo.

É só que… Eu percebi que já não era mais apaixonada por você. Que o amor romântico já não existia mais. E que aconteceu tão naturalmente que eu sentia que não poderia ter um desfecho melhor para o nosso capítulo.

O problema é que nós crescemos programados para acreditar que o amor romântico não pode acabar.

Que o amor vai ser aquela força indestrutível que independente da situação, dos problemas ou do quanto machuque, no fim do dia ele vai sobreviver. Que ele precisa sobreviver, afinal, se ele se perde no caminho, na verdade, nunca foi amor.

Como é que eu poderia te explicar, em poucos segundos antes que você sinta tudo desmoronar enquanto ainda nem terminei de falar, que era amor. Foi amor e ainda é, só não é mais da mesma forma?

Então eu não te expliquei. Deixei pra depois. Pra outras palavras, prum outro momento, onde talvez, se eu desse sorte, fosse mais fácil de falar. Me aconcheguei em você também, pensando em como a vida se transforma e nos transforma todos os dias.

Nesse dia, dormimos no sofá.

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1 Comment

  • bats

    Difícil é não conseguir se imaginar nessa cena.Texto tão bem construído que me faz querer saber mais haha.

    Realmente tendemos a crer que se não durou é porque não foi amor de verdade. Afinal o que é o verdadeiro amor? Acho que caberia uma larga discussão rs.

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