Mudei o trajeto

Meu coração ainda acelera todas as vezes em que eu passo sem querer na frente do seu prédio. E eu juro, é sem querer. Tanto o coração acelerado quanto o passar por aí.

Mudei o trajeto desde o dia em que, na caminhada matinal, vi seu carro saindo da garagem com outra loira no banco do passageiro rindo pra você da mesma forma que eu costumava fazer.

Mudei o trajeto desde o dia em que eu simplesmente sentei sozinha no meio fio às sete da manhã e comecei a chorar.

Porque é claro que eu sabia que a gente tinha terminado. Sabia que já não tínhamos mais nada. Sabia que apesar de eu não conseguir, você com certeza estava seguindo a sua vida. Mas ver aquilo com meus próprios olhos ao invés de apenas nas paranoias que eu criava na minha cabeça foi um soco no estômago sem piedade alguma.

E é claro que não era culpa sua. Burra fui eu, que continuei passando por lá todas as manhãs, com uma esperança besta de cruzar com você saindo de casa.

Com um diálogo pronto e ensaiado todas as noites pra te convidar casualmente para tomar um café naquela padaria da esquina, como costumávamos fazer, na esperança de que fazendo algo que já foi rotineiro pra nós dois, você pudesse se apaixonar por mim mais uma vez.

Mas é claro que isso nunca aconteceu.

A única coisa que aconteceu foi eu mesma esfregando na minha própria cara você feliz com outra pessoa. E sentada naquela calçada chorando feito criança eu prometi pra mim mesma que mudaria o trajeto, que não me colocaria naquela situação novamente.

E eu cumpro na maioria das vezes, esse negócio de mudar o trajeto. Eu juro. É só que hoje eu esqueci.

O que poderia ser um ótimo sinal de que eu tô finalmente superando. Mas não foi. Porque eu passei por aí e meu coração acelerou tanto que eu achei que fosse terminar a caminhada sozinho pra fora do meu corpo.

O simples fato de ver a luz acesa na sua janela fez meu corpo estremecer com as lembranças, que me custaram tanto pra não me assombrar todas as noites, voltando todas de uma vez só.

Quis sentar naquele mesmo lugar e chorar. Não por você. Mas por ser tão estúpida ao ponto de não conseguir te esquecer. Quis chorar por sentir meu coração se partindo mais uma vez só por passar na frente daquele seu estúpido prédio.

Ao invés disso, segui caminhando, a passos lentos, até a padaria. Pedi um expresso duplo, o mesmo que você sempre pedia, mesmo não gostando de café. Sentei na mesinha do canto, que sempre foi a sua preferida. Você dizia que era a única em que o barista não podia nos ouvir.

Torci para que isso fosse verdade. Seria vergonhoso demais que na próxima vez que fosse você pegar o seu café, ele te contasse que andei chorando sozinha por lá.

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