Este é o último texto de amor.
Aquele que ao mesmo tempo em que nunca tive certeza se estaria pronta para escrever, também contava os dias para estar.
Um último suspiro de quem, mesmo depois de tanto tempo e tantas palavras soltas, ainda não sabe o que dizer. De alguém que percebeu que não tem outra saída além de aceitar que nunca teve as palavras certas para usar, para colocar tudo no lugar, porque simplesmente nunca soube onde era o lugar.
Tenho ao fundo, enquanto digito essas palavras, uma playlist dos Beatles, a qual eu escutei incontáveis vezes nos últimos dias. Porém, nenhuma dessas vezes com a intenção de me transportar pra todas as memórias tortas que tenho de você, preciso dizer.
Mas acabava sempre, em algum momento, nem que não fosse sequer por um refrão inteiro, sendo esse o efeito. Eu acabava sempre sendo levada para você. Para os seus olhos escuros que nunca quiseram me contar muito. Para a imagem dos beatles pintada na parede do seu apartamento e a sua voz calma.
Para todas as noites que eu acabei lá sem nem saber como ou porquê. Mas em todas elas com uma certeza enorme de que era exatamente onde eu queria estar.
Mesmo que eu não admitisse nem em pensamento para mim mesma. Mesmo que no dia seguinte a gente não fosse se falar. Mesmo que na noite seguinte eu me achasse a mulher mais burra do mundo por ter feito isso mais uma vez.
Não lembro se alguma vez cheguei a de fato escutar Beatles com você. Minhas memórias sobre nós são em sua grande maioria inventadas, alguns borrões redecorados e reescritos a meu gosto. Só lembro que você gostava.
Lembro de você me falando naquela primeira noite, a qual eu nunca encontrei todas as peças na minha cabeça para remontar.
Aquela noite, sabe? Aquela em que eu me apaixonei por você.
Sempre fui uma fã incorrigível de romance brega, clichês e finais previsíveis. E sinceramente a gente merecia uma medalha por todos os clichês gostosos de início que a gente gastou em poucas horas naquela noite. E outras várias por todos os clichês não-gostosos que gastamos nos poucos dias seguintes.
É um sentimento engraçado parar hoje e olhar pra todo o drama que eu criei na minha cabeça sobre nós dois. Antes, durante e depois. Se é que existiram esses demarcadores no meio de toda a confusão que a gente conseguiu fazer. Você foi rápido e duradouro ao mesmo tempo da forma mais bonita e destrutiva possível.
Eu gostei tão rápido de você, pelos motivos certos. E então desgostei tão rápido, provavelmente pelos motivos certos também.
E aí eu queria tanto gostar de novo, pelos motivos errados. Nós dois. Fizemos tudo tão errado que o desgostar conseguiu ser tão intenso quanto o gostar inicial.
Então acalmou.
Devagar.
E o gostar mesmo já sendo tão errado, se fez presente mais uma vez. Um dilema gigante de “eu gosto, mas não devia… mas gosto… mas será que eu não tô confundindo tudo também? E se esse gostar não é apenas eu querendo estragar uma amizade pelos velhos tempos de caos”? que causou vários outras pequenas fagulhas de caos.
Eu nunca conseguia entender porque você causava sentimentos tão conflitantes em mim.
E pra ser honesta com você, eu não consigo até hoje.
Nunca achei o lugar certo pra colocar você.
Nunca achei os demarcadores pra encerrar os capítulos e poder colocar um ponto final na minha própria confusão.
E é por isso que este é o último texto de amor.
Um sem as explicações ou soluções que eu tanto busquei inventar em todos os outros. Numa tentativa pra que qualquer coisa do que eu sentia sem entender fizesse algum sentido. Mesmo que mínimo.
Eu não sei qual foi o seu lugar durante todos esse tempo.
Mas eu finalmente me sinto pronta pra parar de procurar.
Seu lugar é aqui.
Num refrão de alguma canção dos Beatles.
Nesses textos que eu nunca tive coragem de apagar.
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Dia vai, dia vem… eu sempre entro no seu blog para ler. Primeiro que acho suas palavras confortantes, segundo porque admiro sua forma de expor os sentimentos que em muitas das vezes não conseguimos expressa-los. Eu me vejo em muitas palavras sua, eu sorri quando li ” nunca achei o lugar certo pra colocar você”, eu digo isso ao meu coração inúmeras vezes, e também penso no porque “uma pessoa causa tantos sentimentos conflitantes em mim”. Porque é tão dolorido amar?
Mas se dói, será isso amor mesmo? Porque é tão difícil encontrar respostas para sentimentos?
Oi Angélica! Muito obrigada pelo comentário, é sempre um quentinho enorme no coração saber que alguém além de desprender tempo pra ler o que eu escrevi, ainda dedicou mais um tempinho pra comentar algo.
Por aqui, escrever é sempre uma forma de tentar revisitar as situações e sentimentos e tentar, de certa forma, entender com um outro olhar como de fato me sentia. E ainda assim, muitas vezes sigo com a sensação de ainda não saber nomear ou onde colocar tudo aquilo.