Quando seu perfume sumiu

Deitei a cabeça no travesseiro e seu perfume não estava mais ali. A única lembrança física da sua passagem por aqui já tinha evaporado, mas a lembrança do seu toque ainda queimava a minha pele.  

Quis te ligar. Pedir pra voltar. Pedir pra passar por aqui mais uma vez. Ou duas. Ou três. Bobagem. Eu não saberia por onde começar a explicar que a falta do seu perfume, que poucos dias atrás eu nem conhecia, fazia algo dentro de mim se retorcer, como se fosse errado meu travesseiro exalar agora apenas o cheiro do meu shampoo.  

Olhei em volta te procurando em cada canto do meu quarto, na esperança que você tivesse sido um pouco desastrado e deixado algo seu por aqui, ao invés de só levar. Só para ser justo, sabe?  

Mas a cadeira já não tinha mais seu casaco pendurado, seus tênis não estavam mais perdidos pelo quarto, nada seu pela escrivaninha, nenhum bilhete intencionalmente esquecido. Nem mais o chocolate que desistimos de comer quando ficou difícil demais prestar atenção no filme ao invés de prestar atenção no outro. Terminei ele na mesma noite, depois que você foi embora, numa falha tentativa de preencher a lacuna que você tinha deixado por aqui.   

Você me levou inteira e em troca deixou apenas o seu perfume no travesseiro. Que já sumiu.   

Sua voz já não ecoava mais só pra mim, seus dedos já não descobriam cada centímetro do meu corpo, seus olhos já não me deixavam sem jeito por me devorarem sem parar. Seu sorriso já não me aquecia com a sensação de que éramos as únicas pessoas existindo naqueles dias, com a sensação que nos conhecíamos tão mais do que era possível.  

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Apertei o travesseiro forte contra o peito pensando em quanto era tolo acreditar que, naquele exato momento, até minhas cobertas sentiam saudade do seu corpo quente embaixo delas.   

Peguei o celular e ao invés de ligar, digitei na sua conversa “seu perfume sumiu, será que um dia ele volta?“, engolindo em seco todas as saudades que eu gostaria de te falar.   

Não tive coragem de mandar, mesmo tão pouco ainda parecia tão tolo. Dormi sem seu perfume, sem seu corpo colado ao meu, sem a coragem de enviar.

E ainda assim, sonhei com você.

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