Eu nunca te pedi pelo cafuné ou pela mensagem no dia seguinte. Foi isso que você me alegou, quando tentou me explicar, meses depois, porque é que você decidiu não ficar.
“É que eu nunca soube o que esperar, nunca soube onde eu estava pisando, nunca soube entender os teus sinais, porque pra ser sincero, você nunca me deu sinal algum. Não tem como ficar quando a gente nem sabe onde está e muito menos pra onde vai”
Deixei você jogar a culpa na minha falta de habilidade em mandar sinais. Na falta de um “quero que você fique” mais literal.
Acho que era mais fácil pra você acreditar que faltou vontade minha. Que faltou carinho por aqui. E pra mim, era mais fácil não ter que falar.
Porque, afinal, como é que eu poderia te explicar que a vontade que eu sentia de reorganizar tudo pra que você ficasse me assustava mais do que a ideia de você partir?
É muito mais cômodo não arriscar mudar as coisas de lugar.
De que adiantaria, agora que a nossa história já foi bipartida, te contar que eu me arrependi no segundo seguinte da nossa última conversa?
Aquela, em que você até tentou, em que me disse que estava cansado da minha apatia, que precisava que eu te desse algum sinal de que nós dois tínhamos algum futuro. Qualquer um.
Lembro da cena em cada detalhe. Revivi ela centenas de vezes, como se estivesse vendo algum romance brega, quando a personagem principal está naquela sequência de meter os pés pelas mãos, e a gente no sofá assistindo enquanto se esconde de vergonha alheia, mas sabendo que vai ficar tudo bem nos próximos vinte minutos da história.
“Não temos futuro, meu bem. Mas isso não importa para mim.”
Infelizmente, aquela conversa não era só a cena de um filme. Era nossa vida. E não ficou tudo bem.
Eu não soube dizer que queria que você ficasse. Que queria que você me ajudasse a reorganizar as coisas. É claro que eu queria encontrar espaço pra nós dois na minha vida. Eu só não sabia como fazer. Sempre fui ruim com essas coisas.
Então, deixei você partir. Te vi levantar da minha cama, vestir sua roupa e fechar a porta em silêncio. Como se nunca fosse me perdoar pelo que eu tinha acabado de falar.
Te assisti sair em completo silêncio, também.
Também sem me perdoar pelo que tinha dito. Mas sem a menor coragem de corrigir.
E é por isso, que agora, mesmo meses depois, mesmo sabendo a besteira que fiz e sabendo que ainda imagino todos os outros caminhos que podíamos ter seguido, juntos, eu não falo nada.
Deixo você jogar a culpa na falta de afeto que eu tinha.
Minha culpa não é pela falta de afeto. É pela falta de coragem. E continua sendo, já que sigo sem coragem.
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