De ressaca de você

Tomei coragem hoje e assisti a segunda temporada daquela série que tínhamos combinado de maratonar juntos, assim que saísse na Netflix.

Não sei dizer se éramos preguiçosos demais para procurar os episódios em qualquer outro lugar ou se simplesmente tínhamos certeza demais de que não importava o quanto demorássemos, nós ainda assim assistiríamos juntos.

A série saiu fazem quatro meses. E eu demorei tanto para conseguir assistir que praticamente nem teve graça. Peguei tanto spoiler que já sabia tudo o que ia acontecer.

Pelo menos é disso que eu tô tentando me convencer. 

Que a falta de graça está completamente ligada aos spoilers e nem um pouco ligada à falta dos seus comentários bestas no meio dos episódios. Ou dos seus pés se esfregando nos meus por debaixo da coberta. Ou das suas teorias bizarras sendo comentadas o resto da noite toda.

Não sei dizer exatamente o que aconteceu, ou o que foi que mudou em mim. Só sei que ontem a noite, depois de segurar o choro com todo o pouco orgulho que ainda me restava enquanto tomava o último sachê daquele chá de mirtilo que você me deu, decidi que era hora de colocar um fim em todas as pontas soltas que ainda guardava sobre você.

De colocar um ponto final em tudo que eu fui adiando. Tudo que adiei porque de alguma forma tola eu ainda acreditava que as coisas poderiam funcionar de novo entre nós. 

Então, eu comecei a te arrancar de mim.

Te arranquei primeiro do meu armário, tirando de lá aquela camiseta velha que você deixou por aqui e não fez a menor questão de ter de volta, quando a encontrei perdida na minha gaveta semanas depois da sua mensagem de “não é com você, sou eu”. 

Depois apaguei essa mensagem também. E todas as outras nas quais você se declarava e dizia que “sempre soube que era você, sempre soube que éramos nós” apenas dois dias antes. Também joguei seu nome na lupa do meu whats app e apaguei todas as mensagens em que por algum motivo eu falei sobre você com qualquer pessoa. 

E aí eu apaguei seu número. E o histórico de chamadas, pra evitar que em alguma possível futura recaída após uma garrafa de vinho eu ainda tivesse como encontrá-lo e te ligar. Ou como encontrá-lo e apenas salvar o seu número novamente, sabe, só pra ver a foto do seu contato. 

Então eu apaguei as nossas fotos. Todas elas. Busquei em todos os drives e nuvens e infinitos lugares que a gente guarda fotos na internet hoje, pra não acabar daqui uns meses, quando já tiver me iludido que te superei, esbarrando com elas e voltando umas cinco casas nesse tabuleiro que é te esquecer. 

E depois de te apagar de todo meio eletrônico que eu encontrei, eu abri um vinho.

Um que você me indicou e que eu comprei no mercado na manhã em que você decidiu terminar tudo aquilo que nós nem tivemos a chance de começar. Comprei pra dividir com você na próxima noite de sexta antes de dividirmos a cama. 

Mas já que você não estava, tomei todo sozinha. Tomei enquanto assistia essa droga de seriado e te xingava por não estar ali pra me explicar tudo que eu não entendia. Tudo que eu não entendia nesse roteiro da netflix e tudo que eu não entendia nesse roteiro que você rasgou sem final sobre nós dois. 

E aí eu chorei, solucei, perdi a postura, perdi o orgulho e me xinguei por ter excluído o seu número poucas horas antes. E dormi no sofá sem coragem de encarar o espaço vazio da cama. Sem saber se estava braba com você por ter ido embora ou comigo por ainda sentir tanta falta. 

Hoje eu acordei de ressaca. Do vinho, do meu drama e de você. E acordei decidida: se lançarem uma terceira temporada, eu cancelo minha assinatura. Não sei se suportaria outra noite dessas. 

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