Não escreva sobre mim

Você me pediu, ou quem sabe exigiu seja o termo mais adequado, que eu não escrevesse mais sobre você. Revogando a permissão que tinha me concedido poucos dias antes de poder eternizar seja lá o pouco que tivemos em crônicas mal contadas sobre nós dois.

Nunca entendi direito a sua reação. Foi para me magoar? Ou foi pra se proteger? Ou nenhum? Quem sabe tenha sido apenas para satisfazer seu próprio ego naquela situação e eu que fico procurando sinais demais onde nunca existiu nada. 

Ah, esses sinais. Essas possibilidades. Inúmeras.

Nunca fui boa em lidar com elas, sabe? Eu crio tantos cenários e diálogos na minha cabeça que essa única noite poderia ser uma vida inteira de tantos roteiros que criei e tantas formas que interpretei. Mas no fim, nada disso importa, não é? Não importam os porquês ou os poréns que eu consiga encontrar. O que sobra em todos eles é o “não escreva sobre mim”. 

E eu te juro, eu queria conseguir cumprir. Muito mais por mim do que por você ou pelo seu pedido prepotente.  Queria eu que você fosse tão superficial pra mim que eu não precisasse escrever, que não precisasse te expulsar de mim por meio de palavras jogadas num arquivo qualquer de madrugada após mais taças de vinho do que eu gostaria de ter tomado. Quem me dera fosse simples assim. Mas não é. Você nunca foi simples por mais que eu insistisse em fingir que sim.

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Então eu te peço sinceras desculpas. E me peço também. Mas eu não estou pronta para não escrever sobre você. Não ainda. Contra a nossa vontade mútua você vai continuar virando crônica e poesia sem acabamento nos rascunhos que eu não vou ter coragem para apagar.

Pode ser que nós dois, o conjunto nós, tenhamos morrido naquela noite noite. Após copos demais de cerveja e conversas bestas com som alto demais naquele galpão que, por falta de opção melhor, a gente continua chamando de festa. Pode ser que por falta de opção melhor meu coração e meu sentimental inteiro continuem falando e pensando e imaginando e escrevendo sobre você por muito mais tempo do que eu gostaria. Pode ser. 

Talvez semana que vem você já não faça sentido. Talvez ano que vem você continue sendo assunto recorrente no meu bloco de notas. Quem sabe? Só sei que hoje eu não vou poder acatar ao seu pedido. Me desculpa. Mas eu ainda não estou pronta para não escrever sobre nós. Ainda não estou pronta para não escrever sobre você. 

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