Você não estava disposto a me conhecer

Você não estava disposto a me conhecer e foi aí que tudo desandou: antes mesmo de começar a andar. 

Eu sei, é muito fácil falar e jogar a culpa pra cima de você, você me contestaria no exato momento em que eu começasse a falar. Só que infelizmente é exatamente isso: você nunca esteve disposto a me conhecer. Você nunca esteve disposto a perceber que talvez eu não fosse aquele modelo que você criou na sua mente e colocou num pedestal.

Você não estava disposto a deixar de lado a imagem que criou tão subjetivamente de mim sem se quer termos conversado antes. E eu imagino que deva ser assustador criar uma imagem tão moldada naquilo que você espera de alguém e começar a ver que não é bem assim, porque por melhor que eu fosse, nunca seria bem assim – e graças a deus por isso. 

Quando tudo começou a dar errado, mesmo com aparentemente tudo no lugar pra dar certo, achei que eu pudesse ter feito algo. Revirei na minha cabeça, em cada memória que tinha de nós dois e em folhas e mais folhas de escritos borrados cada pequena ação que poderia ter te causado aquela reação de se afastar.

E essa coisa de precisar achar na gente a culpa de algo dar errado é tão forte que eu juro pra você que até acreditei ter achado.

Mas o caso é que, e eu demorei demais pra perceber isso, o problema não era eu, não era a nossa relação e de certa forma nem era você: o problema é que eu estava disputando com uma imagem minha que jamais existiu para além do espaço do seu imaginário. 

Você acreditou estar disposto a me conhecer, a conhecer como me disse um dia “aquela que daria certo”, mas essa só existiu pra você, ficcionalmente. E eu juro, eu acredito que em algum momento você realmente quis isso, quis substituir a imagem que tinha de mim. E não te julgo por não conseguir.

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Os diálogos, as histórias, os amores parecem sempre melhores na nossa cabeça, quando a gente pode decidir o que o outro fala, pensa e sente também, parecem tão mais seguros. 

Não te escrevo pra te culpar, não te escrevo pra me desculpar, tampouco. Escrevo pra dizer que hoje eu entendo. Nunca fui eu, nunca foi você: foi sempre essa tal idealização que nos ensinaram a fazer desde o berço quando nos contavam que a nossa exata metade cruzaria com nós pela rua um dia e aí tudo mudaria. E tá tudo bem.

É frustrante descobrir que não é assim, que eu nunca poderia ser a sua metade – ou a de ninguém.

Te escrevo hoje pra te contar que outros amores virão, apesar de nenhum ser também a sua metade, e que se arriscar a descobrir os caminhos que a realidade leva pode ser tão ou mais gostoso que fantasiar sozinho no travesseiro todas as noites.

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